Por MANOEL SANTOS NETO
Aos 75 anos, o jornalista Marinaldo Gonçalves faleceu na última hora do domingo passado (dia 12) – o óbito deu-se às 23h45, segundo o boletim médico. Um dos últimos representantes de uma geração de brilhantes jornalistas, Marinaldo deixou para trás uma rica trajetória como poeta, intelectual e homem de imprensa.
Num de seus últimos contatos, ele anunciava o desejo de publicar suas poesias, um livro inédito de contos e um ensaio autobiográfico, para contar um pouco do que foi sua atravancada vida como homem de jornal.
Pai de uma extensa prole – 22 filhos “com algumas mulheres” -, como costumava dizer, e dono de uma longa carreira construída em diversos jornais e periódicos, editados tanto em São Luís quanto em cidades do interior do Estado, Marinaldo, puxando algumas reminiscências da memória, acabou deixando escapar um singelo desabafo: “Ah! Se eu tivesse uma nova chance, corrigiria todos os erros do passado. Só Deus mesmo!”
Por vezes fico achando que ele já pressentia a proximidade da morte. Enfrentava a fase crucial da doença que o atormentava. O câncer lhe corroía as entranhas. Ainda assim, sempre alegre, brincalhão e de espírito expansivo, fez questão de sair de casa, no meio da tarde daquele domingo de eleição (5 de outubro), para ir à seção eleitoral da Unidade Escolar Sotero dos Reis, em frente à Igreja de São Pantaleão.
Na volta para casa, ele deu a notícia: “Votei no Flávio Dino, em nome da mudança. Agora, é esperar para ver o que vai acontecer”, afirmou sorridente, mostrando-se satisfeito por ter comparecido à urna.
Mas logo veio a sucessão de más notícias. Teve de retornar ao hospital, às 8 horas da manhã de terça-feira (dia 7), com grave crise renal. No dia seguinte (quarta, 8), veio a mensagem aterradora: o Dr. Alencar, que o acompanhou durante todo o tratamento, chamou os familiares para dizer que, infelizmente, não poderia mais fazer nada, em razão da falência múltipla dos órgãos. Era uma questão de tempo – de dias ou de horas.
Marinaldo passou a sofrer em silêncio, desacordado, no Leito 42 do Hospital Geral, na Madre Deus, mas sob a vigilância dos filhos Antônio Henrique, Sydartha, Tânia, Celso Fernando, Marília, Mayra, Lídia, Eduardo Terceiro, Kuka e Carlos Edison, que passaram a se revezar nas visitas ao pai moribundo.
Vale lembrar que Marinaldo, depois de uma extensa vida boêmia, dizia que não bebia mais há uns 30 anos. No último final de semana antes de sua morte, ele chegou a lembrar dos 16 anos que viveu na cidade de Açailândia, numa espécie de auto-exílio, exatamente para se livrar da tentação de voltar a beber com os amigos que conquistara nas noitadas em São Luís.
Com a fina ironia de uma pessoa espirituosa e com a verve de quem foi boêmio na maior parte da vida, Marinaldo conhecia tudo da vida mundana. Era mesmo um sujeito excepcional. Tinha paixão pela cultura, era louco pelas festas do período do São João e amava o Carnaval.
Sei que ele sofreu muito, especialmente nos últimos anos, com as dificuldades da vida. Por tudo que representou como amigo fraterno, faço aqui minhas homenagens a Marinaldo, estendendo-as a José Chagas, Ubiratan Teixeira, Renato Sousa, Jota França e Aldionor Salgado, outras grandes perdas neste ano de 2014.